Cariru foi uma serpente gigante que por centenas de anos, protegeu a região que hoje conhecemos como “Vale do Aço”. A cobra fantástica que vivia às margens do Rio Doce, território originário dos povos indígenas, guardava o local que naquele tempo, era conhecida como “Vale Verde”. Com suas escamas reluzentes e seu olho mágico, Cariru cegava os colonizadores e invasores que chegavam mal-intencionados à região. Quando avistavam a cobra, os olhos deles não suportavam o brilho exuberante que refletia da serpente. Todos ficavam cegos, imediatamente. Perturbados pela aparição da cobra e sem poder enxergar, eles se perdiam na mata e morriam de fome ou por acidente. Aqueles que olhavam a cobra nos olhos e conseguiam fugir, enlouqueciam de medo. Reza a lenda que essa história deu origem ao nome do bairro na cidade de Ipatinga, onde a cobra viveu por centenas de anos escondida na “Fícus”, uma linda árvore à beira da avenida Japão, tombada pelo patrimônio histórico e artístico da cidade.
O projeto desenvolvido pelo arquiteto e cenógrafo Joab Sangi, tem como objetivo revisitar a memória originaria da Região do Vale do Aço, uma homenagem aos que vieram antes. Através dos contos locais e lendas indígenas, a obra atua na cidade, a fim de denunciar o descarte abusivo de resíduos na natureza. Transformar o lixo da cidade em obra de arte e ressignificar o conceito do que é lixo, são os maiores desafios do artista. Nessa série, Joab se inspirou na lenda da cobra encantada que permanece até hoje na memória folclórica da cidade de Ipatinga.
Nessa instalação, a série Cariru denuncia a poluição plástica que impacta a região do Vale do Aço. O sistema atual de produção, uso e descarte de lixo no mundo está falido. Ele praticamente garante que volumes cada vez maiores de plástico vazem para a natureza. Esse comportamento afeta a qualidade do ar, do solo, das águas e a vida da população humana e animal. É urgente mudar esse cenário e levar esse debate para as escolas, ruas e nas casas dos cidadãos.
O impacto educacional dessa arte no espaço urbano e privado é uma das estratégias do artista em promover diálogos da sua arte na cidade onde ela é produzida e pensada. As latas recicladas que compõem a obra, foram doadas pela população e estabelecimentos comerciais de Ipatinga. Uma iniciativa que envolve a cidade como um todo.
A instalação criada pelo artista está há mais de 30 dias a disposição do público e recebeu a visita de diversos alunos das escolas do Vale do Aço e público em geral. A obra pode ser visitada até o dia 17 de maio, todos os dias da semana entre os horários de 10h às 20h no Jardim externo do Centro Cultural Usiminas. A entrada é gratuita.
O projeto é uma realização da GaleriA3; projeto de criação de Joab Sangi; curadoria de João Carlos Cardoso; montagem de Joab Sangi e Marcos Rufino; assistente de montagem de Lucimar Severiana, Bruno Rodrigues, Chrika de Oliveira, Mel de Faria, Filipe Fernandes, Danilo Antunes, Jeff di Jesus; Serralheria de Ildmarques celestino Rosa, Richard Lucas Reis Silva e Pablo Oliveira.