SHAMSIA HASSANI: NUNCA ESSA GRAFITEIRA FOI TÃO ACERTIVA

Grafiteira afegã retrata resistência de mulheres ao Talibã em muros de Cabul e nas redes sociais

Ela é uma mulher afegã, grafiteira, que pinta nas paredes, postes, onde houver espaço, mulheres que não têm voz em seu país. As mulheres pintadas por Shamsia são lindas, delicadas, mas não têm boca. Sim, são mudas por imposição da religião. São tristes por causa das guerras.

São palavras dela, em sua página do Facebook: ” Ao que me lembro escondi a minha identidade para evitar quaisquer maus tratos por parte dos outros pela minha identidade e nacionalidade. Para evitar danos ou, pelo menos, reduzir a quantidade dele. Quando éramos imigrantes no Irão, vestíamo-nos como iranianos e falámos no sotaque deles. Ficamos muito felizes por ninguém entender que éramos afegãos, mas tivemos um sentimento estranho em nossos corações, mesmo não tendo pecado, continuamos assustados. Sempre que nos encontramos nas mesmas cores que a multidão ao nosso redor, nos sentíamos seguros, tal como os Camaleões que se sentem seguros ao mudar a sua cor para a cor do seu ambiente (arredores).
Mais tarde, quando regressamos ao Afeganistão, estávamos felizes por a guerra ter acabado e poderíamos desfrutar de viver no nosso próprio país sem qualquer medo da nossa identidade. Mas depois de algum tempo, a guerra começou novamente e as pessoas correram para outros países. Mais uma vez, cada um de nós tirou a cor de diferentes ambientes para fazer uma vida boa para nós mesmos.
Agora, com a volta do Talibã ao Afeganistão, ela perdeu seus direitos e não se sabe ainda qual será o seu futuro. Ommolbahni Hassani (seu nome verdadeiro) era até então professora de escultura na Universidade de Kabul que tinha popularizado a arte urbana nas ruas de Kabul. Shamsia expõe a sua arte digital e a sua arte urbana na ÍndiaIrãoAlemanhaItáliaSuíça e nas missões diplomáticas de Kabul. Em 2014, foi um dos nomeados no 100 Public Intellectual Poll. 

Shamsia nasceu em 1988, em Teerão, Irão, para onde os seus parentes, originários de Kandahar, migraram durante a guerra. Hassani mostrou interesse pela pintura desde a sua juventude. Não se lhe foi autorizado estudar as Belas Artes, âmbito de estudos proibidos para as pessoas estudantes no Irão originarias do Afeganistão. Desde o seu regresso a Kabul em 2005, estudou a arte tradicional na Universidade de Kabul. Mais tarde integrou-se na Universidade como professora encarregada de matéria e depois como professora associada de Escultura. É fundadora do colectivo de arte contemporânea Rosht.

Grafiti na Suíça.

Hassani iniciou-se à arte do grafiti num curso organizado em Kabul em dezembro de 2010 por Chu, um grafiteiro do Reino Unido. O curso foi coordenado pela Combat Communications. Com base no que aprendeu na oficina Hassani começou a prática da arte urbana em muros de casas nas ruas de Kabul. Hassani adota esta forma de arte porque os aerosóis e os outros materiais são muito menos caros que os materiais de arte tradicionais. Em uma das suas obras exposta nos muros do Centro Cultural da capital figura uma mulher vestida de uma burca sentada debaixo de uma escada. A inscrição que está abaixo da figura indica: “O água pode voltar num leito seco, mas o que acontece ao peixe que nele morreu?” Ela faz as suas obras rapidamente, em 15 minutos, para evitar qualquer tipo de hostilidade e afirma que o seu trabalho não é islâmico.

Indica também querer combater a opressão vivida pelas mulheres afegãs na sua sociedade através do seu trabalho.

Em setembro de 2014, Hassani foi finalista do prémio Artraker com o seu projecto “A Magia da Arte é a Magia da Vida”.

A 14 de junho de 2013 realizou um mural na União Operária de Genebra com mulheres migrantes vítimas de violências albergadas em lares de emergência. O dia 14 de junho é uma data simbólica na Suíça porque neste dia comemora-se a Greve das Mulheres, acontecimento que ocorreu a 14 de junho de 1991. Shamsia também esteve em Zurique em junho de 2013, no marco da Rote Fabrik.

 

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