Rodrigo Zeferino revela o real maravilhoso do Congado do Ipaneminha em “Galangos”

A Coroa e o Centenário

A história, muitas vezes silenciada, encontra sua voz e sua cor em grandes formatos. É com essa premissa que o artista visual Rodrigo Zeferino lança a exposição fotográfica “Galangos – Centenário do Congado do Ipaneminha”, um projeto que transcende o registro documental para se firmar como um manifesto estético e histórico. O vernissage acontece no dia 09 de dezembro (terça-feira), às 18h, no Museu Estação Memória Zeza Souto (R. Belo Horizonte, 272 – Centro, Ipatinga – MG).

A exposição, realizada com recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura (MinC), com operacionalização da Prefeitura Municipal de Ipatinga, através da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer (Semcel), celebra o centenário de um dos mais antigos e vitais grupos folclóricos de Minas Gerais.

O tempo e a fé: 100 anos de resistência

O Congado do Ipaneminha, fundado em 1925 como um grupo de “marujos” por José Gonçalves, é um pilar da identidade cultural de Ipatinga. Em 2019, o grupo foi o primeiro bem imaterial a ser registrado como Patrimônio Cultural da cidade, um reconhecimento formal dos saberes, habilidades e crenças passados de geração em geração.

A comunidade do Ipaneminha, um bairro rural que viu a cidade de Ipatinga nascer e crescer impulsionada pela siderurgia do Vale do Aço, mantém viva a tradição, resistindo à força do modus vivendi urbano e cosmopolita que a cerca. É nessa encruzilhada entre o passado ancestral e o presente industrial que a arte de Zeferino se insere.

“Quando descobri que os primeiros movimentos de criação de um grupo de congado aqui na região remontam a um tempo anterior à ocupação de Ipatinga propriamente dita, fiquei muito impressionado com o poder de resistência desta tradição local e me comprometi a realizar algo que pudesse exaltar a força desse povo”, afirma Zeferino.

Para o artista, foi uma grande alegria ter tido seu projeto aprovado em um dos editais da PNAB, o que possibilitou a realização do projeto justamente em 2025, ano do centenário do Congado do Ipaneminha.

Galangos

O título da exposição evoca a lenda fundadora das congadas: Galanga, o Rei do Congo capturado e trazido ao Brasil, rebatizado como Francisco, que se tornaria o lendário Chico Rei. A narrativa de Galanga, que compra a liberdade de seus súditos e constrói uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos em Vila Rica (atual Ouro Preto), é a semente de devoção e resistência que floresce nas congadas.

Rodrigo Zeferino é natural de Ipatinga, com uma trajetória que se iniciou no fotojornalismo, mas que se aprofundou nasartes visuais. Utiliza a fotografia como base instrumental para desestabilizar a percepção visual comum. Seus trabalhos anteriores, como “O Grande Vizinho” e “Veia Aberta” demonstram um olhar atento às paisagens transformadas pela mineração e pela siderurgia, elementos centrais na história do Vale do Aço.

Em “Galangos”, o artista e sua equipe multidisciplinar,mergulharam em uma pesquisa histórica para criar retratos de elevado padrão de produção. A proposta é ir além do registro: são construídos cenários, figurinos e iluminação para conferir aos integrantes da guarda uma vigorosa carga conceitual, elevando-os à condição de obras de arte em painéis de grandes dimensões.

Para isso, contou com a parceria da produtora cultural Shirley Maclane, do artista plástico Rafael Cabral, na direção de arte,e com o artista visual, Nilmar Lage, parceiro de outros trabalhos. Também fazem parte da equipe Jaine Campos, na confecção de figurinos e Éric Araújo, na assistência de produção. Zeferino ainda destaca o apoio do educador comunitário Elias Ferreira, a quem carinhosamente define como “um herói na missão da renovação do Congado”, e Keila Alves, vicediretora da E. M. Prof. Mário Casassanta, do Ipaneminha.

A diretriz estética que guia o projeto é o conceito de “real maravilhoso” (lo real maravilloso), cunhado pelo escritor cubano Alejo Carpentier e amplamente explorado por autores como o colombiano Gabriel García Márquez. Este conceito literário, que Zeferino traz para a fotografia, propõe que a realidade latino-americana, com sua carga histórica de absurdos, violências e resiliência, já é, por si só, mágica e fantástica.

Ao aplicar o “real maravilhoso” ao Congado do Ipaneminha, Zeferino não fantasia a tradição, mas revela a magia intrínseca de sua existência. O martírio da diáspora africana, a fé inabalável e a persistência cultural em um contexto de modernidade industrial são a “realidade desaforada” que Gabriel García Márquez descrevia, e que agora se materializa em imagens que honram a coroa e a ancestralidade dos congadeiros.

A exposição “Galangos – Centenário do Congado do Ipaneminha” é um convite à redescoberta de uma paisagem cultural. É a fotografia que, fundamentada na história da arte e na literatura, presta a devida reverência a um século de batuque, dança e fé”, conclui o artista.

Serviço

Exposição: Galangos – Centenário do Congado do Ipaneminha

Artista: Rodrigo Zeferino

Abertura: 09/12 (terça-feira), a partir das 18h.

Local: Museu Estação Memória – R. Belo Horizonte, 272 – Centro, Ipatinga – MG, 35160-034.

keyboard_arrow_up