É um vai e vem, transpondo montanhas, municípios e estados. Num percurso de 664 km já levou café, mas agora transporta minério e muita gente! Sempre numa velocidade média de 70 km/h. Nessa Roda de Conversa ele será o assunto principal: – O Trem! Além da figura icônica e singular, o trem é tão presente na vida das cidades e dos moradores de Minas Gerais, que nestas terras aqui trem significa quase tudo! Aqui agente compra um trem, pega um trem, leva um trem, come um trem, sente um trem… aqui o trem é bom d+! É trem de doido! Porque tem lugar nesta estrada de ferro que só é município graças à linha que chegou ali.
O Trem é tão importante que tornou-se um personagem do qual nos apropriamos, por identificação, lembranças, histórias e memórias. Uma figura cercada de tanto significado ganhou a atenção da Artista visual Vanuza Barbara, que com curiosidade, dedicação e ousadia embarca na construção de uma nova coleção. A linha de ferro que encantou a estilista vai compor as tramas das 30 peças de roupas da criação intitulada: “Uma Linha Para Contar Historia”.
Nesta coleção a linha tem muitos significados: é a linda de ferro, a linha de costura, a linha da vida… e todas elas vão contar as histórias que acontecem e aconteceram, passam ou passaram dentro do trem, as margens da ferrovia, no entorno das estações, do lado de fora da janela do transporte que já foi a vapor, mas que agora tem nova tecnologia.
A RODA DE CONVERSA
Não poderia ter endereço diferente: – Estação Memória. Além de se tratar do ambiente natural do assunto a galeria hospeda atualmente uma exposição com um acervo de 20 peças e alem disso as copias de fotografias e uma foto original, tirada há mais de 100 anos. A foto mostra um grupo de ferroviários em 1908 na Estrada de Ferro Central do Brasil. Itens que ajudam a contar a história deste importante transporte. Além das fotos, roupas, peças de bilheteria, maquinário, elementos capazes de transportar nosso imaginário e nossas emoções para o assunto em pauta. Um universo singular, rico em detalhes e muitas linhas pra contar.
Por isso, reunimos um grupo de pessoas íntimas ao tema para enriquecer nossa Roda de Conversa, sábado (30/03) às 16h. Este encontro é o ponto de partida para a nova produção de Vanuza Barbara que convidou como mediador o professor, jornalista e estudioso Sávio Tarso. Em 2003 ele fez o documentário “O Trem do Vale”.
José Mauro, é dono das peças organizadas em exposição no ambiente da nossa conversa e também é dono da locomotiva que fica na Estrada de Ferro Caminho das Águas (no Novo Centro, em Ipatinga). Membro da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), José Mauro é um amante do trem. Economista por formação, mas nascido e criado numa família de ferroviários em Além Paraíba-MG. Oficio elegante na época em que a linha se instalava nos povoados e fazia de lugares desertos municípios. O advento do transporte despertou o fascínio tão grande pelo mundo das ferrovias que agora José Mauro é conhecido como preservacionista de muitos objetos que ajudam a perpetuar a história de muitas cidades, empresas, famílias…
Aí entra a presença de outro personagem interessante: o historiador e jornalista Mário Carvalho Neto. Este literalmente morou no trem. Na família dele são 9 filhos. Os três primeiros nasceram na mesma casa, mas tem naturalidade diferente, Mario Neto Nasceu em Resplendor, o irmão em Governador Valadares e a Irma em Coronel Fabriciano. Eles mudavam de cidade sem sair de casa. A função do pai dele exigia a presença em diversos pontos ao longo da estrada de ferro, então se mudou com a esposa e filhos para um vagão cedido pela empresa. O último vagão do gigante a vapor era a casa da família. O avô dele foi um homem muito respeitado na ferrovia. Um dos trabalhadores que participou da construção da estrada de ferro da nossa região como engenheiro prático. Nosso personagem foi batizado com o nome do avô, figura ilustre e homenageado por autoridades dando seu nome a estação ferroviária de Timóteo: Estação Mário Carvalho. Mário tem muita história pra contar. “Herdeiro” de relatos que humanizam e conecta passado e presente da nossa história. Costurando peças soltas como numa colcha de retalhos. Dando sentido quando reunidas por quem sabe cada ponto desta composição.
Vamos falar dos avanços e surgimento de cidades que só existem porque o trem chegou onde estão. Vamos falar de emoção:
– Dores, saudades, alegrias, ansiedade… coisas de quem fica à beira da plataforma sorrindo ou chorando! Somos parte desse trem, como falamos no bom ‘mineirês’. Existe um fio, uma linha que conduz a história de boa parte da nossa população a esta lembrança viva que tem hora, lugar e data para chegar e partir. Na direção da nossa Locomotiva Barbara, mas ao todo cerca de 90 pessoas também pegam este caminho para contar a História que vocês vão conferir em catálogos e exposições no segundo semestre deste ano.
VANUZA BÁRBARA – EMPREENDEDORA DE UM NOVO TEMPO
Há 22 anos Bárbara trabalha com moda e resolveu seguir nesta carreira um caminho de responsabilidade em duas esferas importantes: ambiental e social.
E os números impressionam: 90% das roupas das coleções da estilista são feitas com tecidos de refugo da indústria local, ou seja, de restos de tecidos de fábricas que iriam para o aterro sanitário são reaproveitados por Bárbara.
Em 2015 650 Kilos de retalhos foram utilizados por Vanuza Bárbara, no ano passado o reaproveitamento passou de 1 Tonelada (1.425 kilos). Considerando o aumento de 30%, em média, na reutilização destes refugos nas coleções da estilista, a expectativa é que no projeto “Uma Linha Para contar a história” colabore com o meio ambiente evitando que 1.800 kilos de tecido vão parar no aterro sanitário, quase 2 toneladas!
Os retalhos são sinônimo de oportunidade para “Mulheres fazendo Arte”, um grupo de 25 mulheres se que descobriram como habilidosas bordadeiras no desafio de ornar as peças de Vanuza sempre ricas em detalhes manuais, uma marca da artista visual.
Nas mãos das artesãs, supervisionadas pela criativa Vanuza Bárbara, os tecidos se transformam em obra de arte e o talento em fonte de renda para quem esta em casa com mãos e corações dispostos a se integrar a parte social do projeto da artista.