Quando o azul se torna poesia imagética

Na última sexta-feira, 05 de dezembro de 2025, foi realizada uma oficina de cianotipia com estudantes do 5º ano, no bairro Ipaneminha, em Ipatinga/MG. A atividade foi conduzida pela artista visual e fotógrafa Tatiane Bispo e integrou o projeto “FotoLab na Estrada”, contemplado pelo edital nº 05/2024 – Concessão de Bolsas Culturais, com recursos da Lei nº 14.399/2022 (Política Nacional Aldir Blanc), por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer de Ipatinga.

A oficina contou com o acompanhamento da equipe do projeto — Shirley Maclane (produção), Helena Nunes (monitoria) e Filipe Bicalho (assistência de produção) — que atuou ao lado de Tatiane durante toda a atividade, oferecendo suporte técnico e pedagógico às crianças.

Da história da fotografia à prática artesanal

A oficina começou com uma breve viagem pela história da fotografia, destacando as pesquisadoras e pesquisadores que ajudaram a construir essa linguagem ao longo dos séculos – inventores, cientistas e artistas cujas descobertas tornaram possível a fotografia como a conhecemos hoje.

Nesse percurso histórico, Tatiane explicou a origem da cianotipia, processo criado por John Herschel em 1842, e apresentou aos estudantes a botânica Anna Atkins, considerada a primeira mulher fotógrafa. Atkins foi pioneira na difusão da técnica ao utilizá-la para registrar algas e plantas, produzindo imagens em profundos tons de azul que se tornaram referências na história da fotografia. Além disso, foi autora do primeiro livro ilustrado exclusivamente com fotografias, consolidando seu papel fundamental no desenvolvimento da imagem fotográfica.

Tatiane destacou neste ponto a importância de Anna Atkins para história, reconhecendo nela uma mulher à frente de seu tempo – alguém que, em pleno século XIX, rompeu barreiras impostas às mulheres, abriu caminhos decisivos e inspirando outras a ocupar espaços na fotografia, afirmando-se como fotógrafas, pesquisadoras e criadoras de imagens com liberdade e protagonismo.

A partir dessa introdução, as crianças puderam compreender não apenas o caráter artístico do processo, mas também sua relação com ciência, natureza e experimentação.

Entre fios, linhas e flora: a composição das imagens

Antes de partirem para a prática, Tatiane apresentou cada etapa do processo, explicando como a cianotipia envolvia tempo, cuidado e uma relação direta com a luz e os materiais. Em seguida, as crianças tiveram a oportunidade de vivenciar o processo completo – do preparo dos papéis à revelação final das imagens.

A primeira etapa prática foi a sensibilização dos papéis, realizada pelas próprias crianças, que aplicaram os compostos químicos responsáveis por tornar a superfície fotossensível. Só depois disso elas seguiram para criação das composições das imagens.

Com os papéis já sensibilizados e secos, os estudantes exploraram uma variedade de materiais para construir suas imagens: fios, linhas de costura e bordado, rendas, além de flores e folhas desidratadas – estas últimas preparadas pela monitora Helena Nunes, que também acompanhou de perto todo o processo criativo, incentivando experimentações e novos arranjos. As combinações entre texturas, transparências e formas possibilitaram resultados únicos, reforçando o caráter experimental e manual da cianotipia.

Entre a luz artificial e o sol que abriu caminho

Na etapa seguinte, as crianças puderam compreender, de forma muito concreta, a influência da luz no processo fotográfico. A tarde começou nublada, e por isso os primeiros testes foram feitos em mesas de luz UV, que exigiam exposições mais longas até que as imagens começassem a aparecer.

Pouco depois, porém, o sol surgiu forte e de maneira totalmente inesperada. Tatiane então convidou os estudantes a realizarem o procedimento utilizando a luz natural. A diferença foi imediata: a luminosidade intensa acelerou a revelação e intensificou os tons de azul, transformando cada composição em uma descoberta.

Comparar essas duas condições — luz artificial e luz solar — tornou a experiência ainda mais rica, permitindo que os participantes percebessem, de modo sensível e direto, como a variação da luz determina o resultado final das imagens em cianotipia.

Uma tarde de descobertas, encantamento e criação.

A oficina proporcionou momentos de encantamento, especialmente no instante em que as crianças viram suas imagens emergirem no papel – azuis intensos revelando sombras, formas e gestos cuidadosamente posicionados.

Segundo Tatiane, “A experiência prática da cianotipia desperta nas crianças uma percepção mais sensível do tempo e do fazer manual. Ver a imagem aparecendo lentamente é encantador, e é ainda mais interessante quando elas reconhecem que foram suas próprias escolhas que deram forma a fotografia”

A professora Roseli, responsável pela turma, que participou ativamente da oficina ao lado dos estudantes, destacou a importância da experiência para o processo formativo das crianças: “Foi emocionante acompanhar cada etapa. Estar junto delas, experimentando os materiais, observando a ação da luz e vendo as imagens aparecerem, nos mostrou o quanto esse tipo de vivência amplia o repertório da turma.”

Tatiane afirma que a atividade reforçou o propósito fundamental do “FotoLab na Estrada” que é o de democratizar o acesso aos processos fotográficos artesanais e aproximar cada vez mais pessoas da potência criativa da imagem feita à mão. 


Ao final da oficina, as imagens produzidas pelos estudantes foram expostas no salão do Clube Dançante Nossa Senhora do Rosário — o mesmo espaço que acolheu a atividade. O ambiente se transformou em uma pequena mostra que celebrava não apenas os resultados, mas todo o processo vivido. Após a exposição, cada criança pôde levar para casa as fotografias que criou, um registro único da experiência e do seu próprio gesto artístico.

Agradecimentos especiais à Keila Alves, Elias Ferreira, Rosiley Aparecida e Débora Cristina que tornaram possível a realização desta oficina com os alunos da Escola Municipal Professor Mário Casassanta.

 

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