OBRAS DE ARTE QUE “BRINCAM” COM NOSSO OLHAR. E VALEM MILHÕES

Uma escultura de aço inoxidável criada por Jeff Koons em 1986, inspirada no brinquedo inflável de uma criança, foi vendida na Christie’s na noite desta quarta-feira por US$ 91,1 milhões, quebrando o recorde em leilão de um trabalho de um artista vivo. Com a venda de “Rabbit”, o americano supera o britânico David Hockney, que  teve sua tela “Portrait of an artist (Pool with two figures)” negociada por 90,3 milhões de dólares em novembro do ano passado, também na Christie’s de Nova York.

Com o resultado do leilão, Koons retoma o posto de artista vivo mais caro, obtido em 2013, quando “Balloon dog (Orange)”, dos anos 1990, foi vendido em leilão por US$ 58,4 milhões.

Cada série da obra de Jeff Koons corresponde a uma etapa de sua vida; nunca impôs limites entre o pessoal e o profissional. Celebration, por exemplo, a mais famosa, dedicou ao seu filho, quando sua ex-esposa, ex-atriz pornô e ex-política, Cicciolina, o levou para a Itália. Aprendeu a lição de Dalí, seu primeiro ídolo e por quem começou a pintar: “Minha experiência com ele me fez sentir que podia fazer o que quisesse. Você pode ter uma vida, e a arte pode ser o centro da sua vida”.

O artista conceitual Jeff Koons usou de várias idéias e materiais para construir suas obras. Nessa diversidade estão:

  • PUPPY — um cachorro formado por flores, medindo 16 metros de altura, construído num jardim de um palácio. Nesse trabalho, ele fez um protesto por não ter participado da Documenta de Kassel, em 1992, na Alemanha. Ele comparou a cidade alemã à Disneyland. Atualmente a “escultura” está no Museu Guggenheim em Bilbao.
  • BRANCUSI — um coelho feito de plástico espelhado, imitando aço inoxidável policio. Nessa obra, o significado não está reconhecido, está aberto; ele reflete a personalidade do observador; ele se adéqua ao ambiente como um camaleão.
  • SÉRIE DE OBJETOS DE PORCELANA — o artista fazia encomendas, a artesões, de pequenos objetos populares: estátuas religiosas (anjinhos), animais caricaturados (cachorrinhos, ursinhos) e até de alguns ícones populares (Michael Jackson, pantera cor-de-rosa), arranjo de flores -objetos presentes no cotidiano. Assim, ele se apropria de elementos estéticos da cultura de massa (que já possuem uma função), descontextualizando-as.
  • SÉRIE ‘MADE IN HEAVEN’ — o artista apresentava uma série de fotos gigantescas onde apresentava atos sexuais explícitos, assim como fotos dele mantendo relações sexuais com a atriz pornô Cicciolina (a ícone do gênero). O tema de Koons nesse trabalho seria a validade da pornografia como arte. Segundo Koons, as imagens não possuem o objetivo de produzir atração sexual nos observadores, elas apenas mostram a intimidade de um casal – quebrando um padrão de moral, o que diferencia é a intenção. Essa afirmação é bastante discutível, mas a discussão levantada pelo artista tem sido considerada com freqüência por artistas contemporâneos.
  • ICON GOOGLE — a 30 de Abril de 2008, o logotipo apresentado na página do Google é criação de Koons.
  • Colaborações com Lady Gaga — a capa do 3° álbum de estúdio de Lady GagaARTPOP, foi criada pelo artista e divulgada na Times Square a em 7 de outubro de 2013 7/10/2013. Criou também esculturas para um evento da cantora, a ArtRave, suas obras foram expostas no dia 11 de novembro de 2013. Tem seu nome citado na música Applause.

As relações que seus trabalhos possuem com o conceito de kitsch é que ele transforma o que é kitsch em obra de arte. Por exemplo: na obra PUPPY ele usa um jardim, que já possui uma função estética de pura decoração, em uma ironia dentro de um contexto específico; o coelho BRANCUSI ele juntou a vontade de emitir do emissor com a vontade de receber do receptor, para transformar o kitsch objeto em arte; as porcelanas põem em questão: obra de arte ou objeto de cultura de massa?

Os trabalhos de KOONS possuem diversas características com as questões de arte pós-moderna:

  • a autoria — ele não põe as mãos nos trabalhos, ele possui um equipe encarregada do serviço;
  • metalinguagem — ele usa da arte para falar da própria arte, principalmente quando entra na questão dos valores estéticos da cultura de massa.
  • inspiração no cotidiano — ele busca elementos do cotidiano das pessoas para questioná-los e discuti-los.
  • participação do público — alguns de seus trabalhos só se formam com a presença do observador, chegando, às vezes, a ser o próprio observador.
  • espaços não convencionais — alguns de seus trabalhos foram realizados dentro da mídia,
  • mistura de personagem e artista — nos trabalhos ditos “pornográficos” ele era o artista que era o próprio personagem da obra.
  • novos critérios e valores de qualidade — questiona os paradigmas, os dogmas e os valores impostos pelo mercado de arte, através de uma sutil ironia (em relação aos padrões de beleza) presentes em seus trabalhos.
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