Ela era dona de uma voz considerada a VOZ DO MILÊNIO, ao lado de outros grandes. Incansável, lutou contra o racismo e a miséria, que ela sofreu na própria carne.
Era dona de frases memoráveis, como
"Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta fome", resposta de Elza no palco do programa de Ary Barroso, quando o apresentador tentou ridicularizá-la por sua aparência simples, perguntando-lhe de que planeta tinha vindo, na década de 1950. "Ser mulher é difícil. Negra, ainda muito mais. Mas, se você parar porque é negra e é mulher, não chega a lugar nenhum"; "Minha primeira academia foi subir o morro carregando lata d’água na cabeça. Não existe academia melhor. As pernas ficam gostosas, o bumbum duro. Daí, quando me pergunta a minha idade, respondo que tenho a idade da bunda dura. Esse é o país das bundas"; "Na minha época, mulher só tinha o direito de apanhar calada"; "Mulheres, gemer só de prazer. A realidade é outra. Chega de sofrer calada. Ligue 180. Machistas não passarão, acabou para vocês" ;
“Não tenho medo de nada. Temos que ensinar o medo a ter medo de nós”;
“Não tenho medo da morte porque acho que não vou morrer. Vou virar purpurina.”
Nascida em 1937, na favela Maria Bonita, no Rio de Janeiro. Filha de um operário e de uma lavadeira, lutou para sobreviver antes de ser reconhecida como grande artista. Aos 12 anos, foi obrigada pelo pai se casar e, um ano depois, teve o seu primeiro filho, João Carlos. Mãe de nove crianças no total, Elza perdeu cinco filhos (três morreram de fome).
Sua carreira teve início aos 16 anos, em 1953, quando participou do programa “Calouros em desfile”, de Ary Barroso, na Rádio Tupi, e ganhou o primeiro lugar. Com a visibilidade, ela conseguiu um emprego como crooner na Orquestra Garam de Bailes, do maestro Joaquim Naegli.
O seu primeiro disco de estúdio, “Se acaso você chegasse”, foi lançado em 1959, pela Odeon. Com o sucesso da música-título, composta por Lupicínio Rodrigues, ela começou a ganhar reconhecimento e fama pelo Brasil. E foi representando o Brasil na Copa do Mundo no Chile que ela conheceu Garrincha, com quem viveu um romance intenso e conturbado.
Os dois se casaram em 1966 e só se separaram em 1982, após seguidas traições do jogador, que sofria com o alcoolismo. Durante o relacionamento, bastante acompanhado pela mídia, eles chegaram até a ser alvos do DOPS, órgão repressivo da ditadura militar.
Depois de décadas de sucessos, no início da semana, nos dias 17 e 18, ela subiu ao palco do Theatro Municipal de São Paulo para gravar um novo trabalho que lembra seus 70 anos de história musical, um DVD para eternizar seu legado até os últimos momentos.
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Nesta quinta, 20, Elza não se sentiu mal ou coisa parecida. “Não reclamou de nada. Tomou café da manhã feliz e fez fisioterapia. Por volta de 14 horas ela falou: ‘Eu estou indo embora’, e isso nos deixou preocupados”, contou o empresário Pedro Loureiro ao Yahoo!.
A família acreditou que a frase pudesse ser algum delírio por conta da idade ou alguma infecção e acenderam o alerta. “Chamamos os médicos dela. Quarenta minutos depois que ela disse isso, comentou: ‘Eles estão vindo me buscar’, e a respiração ficou fraquinha. Os médicos chegaram e ela já tinha ido embora. Ela foi embora como queria, mas estava bem e feliz. Estava tudo ótimo”, relembrou Pedro.