No Brasil, milhares de pessoas vivem a angústia da espera por um órgão. São homens, mulheres e crianças que dependem da solidariedade alheia para seguirem respirando, caminhando, enxergando ou simplesmente vivendo. Segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes, mais de 78 mil brasileiros aguardavam na fila por um órgão em 2024. Cada número dessa estatística carrega uma história de luta e de esperança.
No Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, o trabalho de captação de órgãos representa a primeira etapa para que vidas sejam salvas.
Quem explica a importância desse gesto é o médico intensivista e Coordenador da Comissão Intrahospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, Dr. Emerson Damasceno Moura. “A doação de órgãos é um ato de extrema relevância para a sociedade. Ela representa a esperança de vida para milhares de pessoas que aguardam na fila de transplantes. É um gesto altruísta que transcende um indivíduo, impacta famílias inteiras e fortalece a nossa comunidade. A solidariedade demonstrada por uma família, em um momento de dor, tem o poder de transformar a despedida em um legado de amor e cuidado com o próximo”, destaca.
De acordo com o médico, diversos órgãos e tecidos podem ser doados: coração, rins, fígado, pulmões, pâncreas, córneas, pele, ossos e articulações. Cada um deles pode significar um recomeço para quem aguarda ansiosamente por um transplante.
Dr. Emerson explica que a conscientização da população é fundamental para reduzir a fila de espera. “Embora o Brasil tenha avançado muito em técnicas cirúrgicas e infraestrutura, a demanda ainda é maior que a oferta. A principal barreira continua sendo a falta de doadores. E isso só pode mudar quando as famílias estiverem preparadas para dizer ‘sim’ à doação”, afirma o médico.
Ele reforça que, no Brasil, mesmo que a pessoa manifeste em vida o desejo de ser doadora, a decisão final cabe à família. Por isso, conversar abertamente sobre o tema é essencial. “Quando o desejo é conhecido, a família se sente amparada para tomar essa decisão em um momento tão difícil”, completa.
Outro ponto destacado pelo médico é que ainda existem muitas dúvidas e mitos sobre a doação de órgãos. Dr. Emerson explica que a retirada é feita com todo respeito, não impede o velório nem o sepultamento, e que qualquer pessoa, mesmo não tão jovem ou com algumas condições de saúde, pode ser doadora. “Ainda existem muitos mitos sobre a doação de órgãos que precisam ser desfeitos. Muita gente acredita que não poderá ter um velório digno, que só jovens podem doar, que os órgãos seriam vendidos ou até que o atendimento médico seria prejudicado se a pessoa fosse doadora. Nada disso é verdade. A retirada é feita com todo respeito, qualquer pessoa pode ser avaliada como doadora, a doação é gratuita e regulamentada, e o compromisso dos médicos sempre será salvar vidas. Por isso, é fundamental esclarecer esses pontos e fortalecer a cultura da doação em nossa sociedade”, explica.
A doação no Brasil é totalmente gratuita e regulamentada pelo Sistema Nacional de Transplantes. Porém, mais do que campanhas, o que salva vidas é a conversa dentro de casa. Expressar o desejo de ser doador e reforçar isso ao longo da vida ajuda a aliviar o peso da decisão para os familiares. “A doação de órgãos é um legado de amor. Em meio ao luto, ela oferece esperança para outras famílias. Por isso, falem sobre isso em casa, deixem claro o seu desejo. Esse diálogo pode significar o recomeço para alguém que você nunca conheceu, mas que vai carregar para sempre a sua gratidão”, conclui Dr. Emerson.
Uma nova chance de vida
Entre os que tiveram a vida transformada com um novo recomeço pela doação de órgãos está Paulo Henrique Madureira de Souza, morador de Ipatinga, que recebeu um rim quando tinha apenas 16 anos. Antes do transplante, sua rotina era marcada por limitações e sofrimento. “Foi muito difícil e complicado. Fiz diálise peritoneal durante quatro anos e mais três anos de hemodiálise, aguardando nesse período um doador compatível. Não tinha qualidade de vida como um jovem normal, não podia viajar, jogar bola, e ainda precisava seguir uma refeição extremamente controlada”, relembra.
A notícia da doação chegou no momento certo. “Foi um momento de muita alegria, porque meu organismo já não estava aceitando mais a hemodiálise devido às complicações diárias. Deus enviou no momento certo”, conta Paulo Henrique.
Hoje, com 30 anos, ele descreve sua vida como um recomeço. “Tenho uma qualidade de vida muito boa, mesmo com algumas restrições. Consigo viajar com minha família, tenho um bom convívio social, participo das atividades da minha igreja, inclusive tocando na banda. Faço coisas que antes eram totalmente limitadas”, comemora.
Com gratidão no coração, Paulo deixa um recado emocionante às famílias que podem se tornar doadoras. “Através da doação eu tive a oportunidade de viver. Foi uma segunda chance, um recomeço. Os doadores não compartilham apenas uma parte de si, eles entregam vida”, relata emocionadamente.
Fundação São Francisco Xavier
A Fundação São Francisco Xavier é uma entidade filantrópica que atua desde 1969 e conta com cerca de 6.200 colaboradores. Atualmente, administra duas unidades hospitalares, sendo o Hospital Márcio Cunha com cerca de 70% dos atendimentos pelo SUS, em Ipatinga, e o Hospital Municipal Carlos Chagas com 100% dos atendimentos pelo SUS, em Itabira (MG).
As unidades hospitalares têm uma gestão marcada pela responsabilidade, pela oferta de atendimentos de excelência e pelas melhores práticas de segurança. Além das unidades hospitalares, a Fundação é responsável por administrar a operadora de Planos de Saúde Usisaúde, que possui mais de 200 mil vidas, o Centro de Odontologia Integrada, que mantém os melhores indicadores de saúde bucal já divulgados no Brasil, e o Serviço de Segurança do Trabalho, Saúde Ocupacional e Meio Ambiente – Vita, que soma mais de 160 mil vidas sob sua gestão.
Na área educacional, o Colégio São Francisco Xavier, unidade precursora localizada em Ipatinga, é referência em Educação na região, com cerca de 2 mil alunos, da educação infantil à formação técnica.