Do quilombo para a indústria: agricultura familiar de Belo Oriente conquista novo mercado:Cenibra é cliente

Com apoio da Prefeitura, Comunidade Quilombola Esperança amplia produção e inicia fornecimento direto ao restaurante industrial da empresa

No mês em que o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, Belo Oriente registra um avanço histórico para a Comunidade Quilombola Esperança e para a agricultura familiar do município. Com apoio da Prefeitura de Belo Oriente, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura e Desenvolvimento Rural, três produtores locais fecharam um contrato inédito para fornecer alimentos diretamente ao restaurante industrial da Cenibra, operado pela GR S.A.

A conquista simboliza não apenas a abertura de um novo mercado — estimado em até R$ 2 milhões por ano —, mas também o fortalecimento do protagonismo quilombola e da economia agrícola da região. Os produtos já estão no cardápio das cerca de 5 mil refeições servidas diariamente aos colaboradores da indústria de celulose.

O novo contrato contempla a entrega de polpas de frutas, mandioca descascada e congelada e banana produzidas por famílias da Comunidade Quilombola Esperança e processadas em pequenas agroindústrias locais. A iniciativa é resultado de articulação entre a Prefeitura, o Instituto Cenibra e a GR S.A., com apoio da Emater-MG e Sebrae-MG,que abriu credenciamento para produtores do município.

O prefeito Joãozinho Hemétrio destaca que essa entrega é fruto de um trabalho estruturado iniciado em 2017 com continuidade na gestão atual.

“Desde 2017, a prefeitura oferece insumos, máquinas, caminhão, assistência técnica e todo o suporte para que as famílias produzam e tenham para onde vender. Com isso, Belo Oriente virou um verdadeiro celeiro agrícola da região. São mais de 100 produtores atendidos, gerando emprego, renda, fortalecendo o comércio local e reduzindo o êxodo rural. Hoje, essa parceria com Emater e Cenibra se concretiza e mostra que o investimento valeu a pena”, afirmou o prefeito.

Joãozinho Hemétrio também reforça ainda o simbolismo da conquista. “Neste mês tão simbólico para a identidade negra e quilombola, nossos produtores dão um passo extraordinário. Isso é fruto de apoio técnico, investimentos e abertura de novos mercados que promovem autonomia, renda e dignidade.”

Do quilombo para a mesa da indústria

As primeiras entregas já foram realizadas por três famílias da Comunidade Quilombola Esperança, cada uma com uma história marcada por esforço e transformação.

Polpas de frutas – Cristiane dos Reis Lima

Depois de trabalhar como caixa de supermercado, Cristiane investiu na produção agrícola familiar e abriu sua própria agroindústria, com apoio do município.

“Começamos em 2018 com a plantação de maracujá dos meus irmãos. Como nem tudo era vendido, começamos a fazer polpas para a merenda escolar. Hoje são nove sabores. Eu ainda trabalhava no supermercado, então quem produzia era minha mãe e minha filha. Fomos crescendo, fornecendo para escolas, municípios vizinhos e, agora, para a Cenibra. É uma realização. A Prefeitura sempre deu suporte para todos os produtores.”

Hoje, Cristiane emprega a mãe, a filha, o esposo, a cunhada e uma nutricionista, além de comprar frutas de outros pequenos agricultores.

Banana – Irmãos Diego e Warley Lima

Ex-soldadores, os irmãos decidiram ficar perto da família e apostar na agricultura.

“Trabalhávamos no trecho. Em 2018, com orientação técnica, plantamos banana prata. Começamos fornecendo para o PNAE, depois para verdurões e agora chegamos ao restaurante da Cenibra. É um ganho muito grande. Só temos a agradecer. O apoio da Prefeitura abriu portas e nos ajudou a manter a qualidade. Nosso plano é crescer, maximizar a produção e viver da terra, sem precisar sair de casa”, conta Diego Lima.

Mandioca – Jáberson Júnior Madeira Ramos

Com seis hectares de produção e uma pequena unidade de processamento, Jáberson e a irmã ampliaram a atuação da família, tradicionalmente ligada à agricultura.

“Começamos há 8 ou 9 anos pelo PNAE. Foquei na mandioca e fui crescendo sem medo. O apoio da Prefeitura é de grande valia, principalmente para escoar a produção. Um pequeno produtor conseguir chegar até uma empresa grande, seguindo normas e entregando com qualidade, é motivo de muita satisfação. Fazer parte de uma comunidade quilombola reconhecida é um orgulho enorme.”

Apoio integral ao pequeno produtor

O secretário municipal de Agricultura e Desenvolvimento Rural, Nardely Ramos, explica que o avanço é resultado de políticas contínuas de incentivo.

Hoje oferecemos assistência com seis máquinas, fornecemos mudas e insumos, damos apoio técnico constante e logística completa, incluindo caminhão baú refrigerado. Isso permite que a agricultura familiar realmente cresça e alcance mercados maiores.”

Atualmente, cerca de 250 famílias recebem apoio direto da Prefeitura. No PNAE, são 110 famílias cadastradas, com excedentes enviados para mais de 170 escolas em outras cidades do Vale do Aço.

Profissionalização e qualidade reconhecida pela indústria

A GRSA, responsável pela operação do restaurante industrial, destaca o avanço dos produtores.

“É muito importante agregar valor. Ver a agricultura familiar se profissionalizando e os fornecedores entregando com qualidade é extremamente gratificante. Ganhamos tempo, segurança e qualidade na alimentação dos nossos clientes”, afirma Sérgio da Silva Santos, coordenador de operações da GRSA, afirma:

O Instituto Cenibra, parceiro da iniciativa, reforça o impacto social e econômico:

Identificamos produtores com grande potencial e realizamos visitas e capacitações para fomentar o trabalho. Eles se profissionalizaram e estão prontos para atender a Cenibra. Isso ajuda a fixar famílias no campo, gera renda, estimula produção sustentável e garante uma alimentação mais saudável, com produtos tradicionais, saborosos e nutritivos.

O projeto foi apresentado no caderno especial do setor florestal brasileiro na COP30, em Belém (PA).

BOX: Quilombo Esperança: história, identidade e autonomia

A Comunidade Quilombola Esperança é uma das maiores do Alto e Médio Rio Doce, com forte atuação na agricultura familiar. São 286 famílias, sendo cerca de 100 dedicadas diretamente à produção, atendendo sete cidades da região.

Eliane, secretária da Associação dos Remanescentes Quilombolas e Moradores do Esperança, destaca a transformação. “Temos mais de 200 anos de história. Já passamos por muita dificuldade, mas hoje vivemos da terra. São 11 agroindústrias funcionando na comunidade e três já fornecem para a Cenibra. Isso é um grande avanço, especialmente para as mulheres”.

“A agricultura familiar trouxe autonomia e perspectiva. Agora é muito mais rentável trabalhar aqui, não precisamos ir embora. Meu desejo é que meus filhos continuem nossa história”, reforça.

A Associação, criada em 1984, segue liderando o desenvolvimento local e fortalecendo a identidade quilombola.

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