ADÉLIA PRADO, TRADUZINDO EMOÇÕES

A poetisa, professora, filósofa e contista Adélia Prado completou ontem 80 anos de idade. E, entre seus temas recorrentes, sua fé e sensibilidade, ansiedade, falta de tempo, amor, vida e morte nos enchem a alma e acalentam sentimentos que pensamos serem só nossos. Minha homenagem a ela vem em forma da publicação de um de seus trabalhos de que mais gosto: 

“Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.”

Eu também, Adélia.

keyboard_arrow_up