ENTREVISTA DE PAULO BRANT, VICE-GOVERNADOR ELEITO DE MINAS

O querido Dr. Paulo Eduardo Brant foi presidente da Cenibra e, quando esteve à frente da empresa, criou laços com o Vale do Aço, laços estes que, acredito, o farão olhar para a região com olhos de quem conhece de perto nossas riquezas e dificuldades. O agora eleito vice-governador na chapa de Romeu Zema deu entrevista para a revista CHIQUE! de março de 2013 e, como o que ele disse ficou marcado em mim como lições de humanidade, resolvi dividir com vocês, caso não tenham acessado a edição em questão. Eis alguns trechos da entrevista:  

O QUE TRAZ RIQUEZA E DIVERSIDADE À NOSSA VIDA SÃO AS RELAÇÕES PESSOAIS QUE ESCOLHEMOS TER

 

Sua filosofia se espelha no poema de Mário Quintana: O segredo é não correr atrás das borboletas… é cuidar do jardim para que elas venham até você.

 

Um economista que ama Bach e literatura, divide seu tempo entre livros, discos, amigos, família e  trabalho com tal empenho que faz de cada momento um tempo único de ser feliz, eis como posso, em rápidas palavras, descrever Dr. Paulo Eduardo Brant, atual presidente da Cenibra. Mas poucas palavras não me bastam, porque preciso contar um pouco do que entendi sobre ele em nosso encontro na sede da empresa, em Belo Horizonte.

  

Entender Dr. Paulo Brant é percorrer com atenção, olhos nem piscando, as frases pensadas e sentidas como que brotadas da alma. E não seria isso mesmo? Ele nasceu em Diamantina em 1º de maio, há 58 inacreditáveis anos, numa família de 11 filhos, pai juiz, desembargador, Dr. Moacir Pimenta Brant, homem justo, humano, generoso em seu sentido mais pleno, ético, inteligente e culto, que tinha enorme prazer em somar conhecimento. Morreu com 94 anos e lia todos os dias. Com um pai-modelo em casa, ficou fácil para o menino Paulo adorar tudo o que vinha dele. E aprender. Hoje, em sua biblioteca, desfilam temas como matemática, física quântica, literatura, economia, História. “Adoro História”, confidencia. Da mãe vem o gosto pelo que chamamos laços de família, ainda que sua ausência se torne uma saudade das delícias degustadas à mesa, aquele mundaréu de filhos em animada prosa.

Para Paulo, o prazer e alegria estão nos relacionamentos. “O que traz riqueza e diversidade à nossa vida são as relações pessoais que escolhemos ter, em todas as áreas: social, pessoal, profissional, afetiva. É claro que o centro deste conjunto somos nós. De nada adianta você ter tudo e estar sozinho”, pondera.  Paulo crê no nosso poder de escolhas – felizes ou desastradas – como mensurador de qualidade de vida. Tanto, que credita à diversidade a capacidade de exercitarmos nossa tolerância, nossa generosidade, a humildade em seu sentido mais pleno. Ele é taxativo: “Se as pessoas que o rodeiam têm o mesmo pensamento que você, no fundo o que você quer é ecoar suas ideias. Quando conseguimos abrigar em nossa rede de amizades gente diferente, aprendemos com elas a cada dia.”

E a felicidade, onde está? A resposta chega com emoção: “Se você quiser ver a qualidade de vida de uma pessoa, olhe o conjunto de relacionamentos que ela tem. Se ela tem boas relações com a mulher/o marido, filhos, irmãos, primos, amigos, seus colegas de trabalho, essa pessoa é feliz. Pra mim, felicidade tem a ver com isso e com o fazer coisas diferentes. Toda repetição é chata. Mesmo a música mais linda do mundo, se você escutá-la durante horas, sem interrupções, fica insuportável. A Natureza é bonita porque é diversa.” Lindo, isso!, pensei!

Seu tempo preferido é… o presente! E o presente de Paulo Brant vem carregado de esperança no futuro. Ele descobriu a fórmula mágica, que eu conto mais à frente. Gosta tanto do fim de semana quanto de chegar em casa à noite, depois do trabalho; gosta de tocar violão, da cerveja no bar com amigos, gosta de tirar férias, de viajar. Como busca prazer no que faz profissionalmente, ele se deu perfeitamente bem em todos os lugares onde trabalhou. “Sou no trabalho do jeito que sou em minha casa. E isso eu tento passar para os funcionários da Cenibra: os valores que a empresa quer que você pratique são os valores que você pratica em sua casa, com a sua família. Ele mais uma vez se lembra do pai, ao citar uma frase muito usada nas profícuas conversas que tiveram: “Só ficamos velhos quando pensamos que o melhor que tinha que acontecer na nossa vida já aconteceu e que, de agora em diante, tudo é declínio, isto é, daqui para o pior… Ideias negativas contaminam o presente, inviabilizam um futuro feliz e trazem o passado para o hoje”, dizia. Ficou tudo guardado na memória, como um mantra: “faz parte de viver o presente ter uma expectativa boa em relação ao futuro”. Aí é que vem a “fórmula mágica” que eu citei acima: “É necessário que tenhamos uma certa “ingenuidade” com relação à vida. Estar aberto às coisas boas que chegam. O indivíduo cético é aquele que perdeu essa ingenuidade e segue adiante negativando tudo à sua volta. Tem esse ceticismo que leva a vida a um patamar de desesperanças. O ceticismo empobrece a alma”, afirma, com olhos de sonhar. “Tudo na vida tem seu lado positivo e seu lado negativo. O governo, por exemplo. Não acho que a maioria das pessoas são desonestas.  Existem políticos desonestos, mas existem os que são bons, corretos, íntegros, humanos.  O governador Antônio Anastasia, por exemplo, que eu conheço há anos, é integro, ético, correto, pessoa do bem. No conjunto das minhas relações, 100% são pessoas do bem. Erram, acertam, têm defeitos, têm dificuldades, mas não são escroques, jamais!

E a receita para uma vida que tenha sentido?, pergunto. A resposta chega com uma história deliciosamente ilustrada de poesia. Literalmente: “Tive um tio muito querido, que morreu com 101 anos. Homem inteligente, culto, de ação, havia sido revolucionário na Revolução de 30, morou em diversos lugares, era um homem inserido em seu tempo. Ele contava que havia conhecido uma tia-avó que era amarga em tudo. Ela tivera uma vida difícil, é verdade: não havia se casado porque o pai a queria freira. Tudo o que vinha dela era de má vontade, de mau humor. Ela era a própria encarnação de um poema de Raul de Leoni, poeta do início do século XX: Almas desoladoramente frias

De uma aridez tristíssima de areia,

Nelas não vingam essas suaves poesias

Que a alma das cousas, ao passar, semeia…

 

Desesperadamente estéreis e sombrias,

Onde passam (triste aura que as rodeia!)

Deixam uma atmosfera amarga, cheia

De desencantos e melancolias…

 

Nessa árida rudeza de rochedo,

Mesmo fazendo o bem, sua mão é pesada,

Sua própria virtude mete medo…

 

Como são tristes essas vidas sem amor,

Essas sombras que nunca amaram nada,

Essas almas que nunca deram flor…

E Paulo prossegue: “Existem pessoas que são assim, não por serem ruins, mas porque não sabem extrair da vida o lado positivo dela. São pessoas desnutridas de afeto, como uma planta que não é regada. Sofrem, mas não conseguem se desvencilhar de seus maus pensamentos. Exemplo desse tipo de pessoa é aquela que lhe dá uma camisa e depois cobra: “Você não está usando a camisa que lhe dei”. Peraí, você me deu ou me emprestou? Ou: “Fui duas vezes à sua casa e você não foi nenhuma à minha!” Mesmo fazendo o bem, sua mão é pesada.  Daí a necessidade de sermos “ingênuos” diante da vida”.

Dos livros, Dr. Paulo me aponta o caminho: uma biblioteca diversificada, que tem literatura, filosofia, economia, matemática, física quântica, História da arte, História. “Tudo o que não sei me atrai. Sinto prazer em descobrir ângulos novos de ver o mundo.” Sábio, ele…

De discos, MPB boa – Caetano, Milton Nascimento, Tom Jobim, Mariza Monte, entre outros -, música clássica (o compositor preferido, Bach, não ganhou simpatia imediata: foi depois de muito ouvi-lo enquanto fazia trabalhos da faculdade com um colega apaixonado pelo compositor que aprendeu a apreciá-lo). “Já houve um tempo em que eu tocava muito violão. Hoje, nem tanto. Estou fazendo aulas, mas para consumo próprio. Para relaxar. A música é muito mágica”, ensina.

As viagens são escolhas de quem adora História: “Gosto muito da Europa, apesar de saber que, do ponto de vista econômico, ela terá relevância cada vez menor no cenário mundial. Mas sempre será o berço da cultura enciclopédica, humanista. Além disso, os países estão muito perto uns dos outros, a cada pequena viagem você encontra diferentes costumes… De todos, prefiro a França. Já fiquei sozinho uma semana em Paris, andando, visitando lugares, parando para um café, um chocolate quente, um vinho, apreciando aquele povo elegante… Há 30, 40 anos, a França era a referência cultural mundial. Era chique falar francês”. E Paulo emenda uma história interessante: “Em sua viagem por Diamantina, Richard Francis Burton (NR: cônsul, viajante, escritor e tradutor inglês do século XIX que descreveu sobre vários lugares por onde passou, inclusive no Brasil) escreveu que todas as mulheres da elite local tocavam piano e falavam francês”. Très chic!

E as férias no Brasil? “Gosto muito de montanhas, cachoeiras, hotel-fazenda. Gosto do mar também, mas não sou um apaixonado. O mar é pra passear. Depois volto. As cidades praianas são um tanto “devassadas”, abertas demais. Não permitem as intimidades que a montanha lhe dá. Ser mineiro é um pouco isso: gostar de se relacionar com todas as pessoas, mas resguardar sua intimidade. Tem partes da intimidade que é somente nossa. É você e você. Se perder isso, se dissolve na relação. É aquele core (NR: palavra inglesa usada em Economia para descrever algo que não pode ser terceirizado) . Eu tenho que me haver comigo mesmo. Tenho que mirar-me no espelho, pela manhã, e dizer: você é o cara de quem eu mais gosto no mundo. Você é especial. Será que aquele que trapaceia tem essa tranquilidade de encarar o espelho?” Desce o pano.  E o Paulo diamantinense de raiz tem mais a ensinar: “O primeiro mandamento da lei de Deus deveria ser amar a você mesmo antes de todos, para então poder se doar inteiro e significar algo na vida das pessoas que o rodeiam. Se você não se gosta, é impossível gostar do outro. Você é o único que conhece tudo desse que você vê refletido no espelho. Tudo aberto, escancarado. A integridade repercute em todas as relações da pessoa. Descobri isso com meu pai e minha mãe. Meu pai falava pouco, mas era coerente. Eu gostava do jeito dele ser e era aquilo que eu queria ser.” E sentencia: A maioria das pessoas não precisa do Código de Ética das empresas. Elas já trazem em si uma ética própria, que se baseia no respeito pelo outro.(…)

Dr. Paulo Roberto Brant acaba de ser agraciado com o Prêmio Hugo Werneck Destaque Especial por seu apoio ao meio ambiente. De um de seus autores preferidos, Guimarães Rosa, ele retira uma frase: “Eu quase que nada sei… mas desconfio de muita coisa.”

Mais chique impossível.

 

 

 

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