ANO NOVO: LENDAS E TRADIÇÃO

Pular sete ondas, comer 12 uvas, guardar sementes de romã em uma nota de dinheiro, dar uma volta no quarteirão segurando uma mala. E tudo isso de roupa branca e lingerie nova, da cor do orixá que regerá o ano-novo. Num país místico e ecumênico, quem quer garantir prosperidade, sorte, amor e viagens tem uma agenda intensiva de rituais para cumprir. Na dúvida, melhor fazer tudo, e ainda rechear a mesa de receitas deliciosas com ingredientes tidos como auspiciosos. Assim, mesmo que as simpatias não surtam muito resultado, pelo menos a lembrança do banquete será das melhores.

“Existe uma infinidade de superstições criadas em pequenos grupos, mas que se disseminam mundo afora de forma viral”, diz Ricardo Maranhão, historiador e professor de história da gastronomia na Anhembi Morumbi. Diz-se, por exemplo, que não é boa ideia comer bichos que ciscam para trás, como as aves, no réveillon. Já porcos e peixes são bem-vindos na ceia, porque se movem para a frente, como gostaríamos que a vida caminhasse, além de serem símbolo de fertilidade e fartura.

Os judeus acreditam que mel garante um ano doce e o consomem com maçã, símbolo do início do mundo, em seu ano-novo, o rosh hashaná. Considerada sagrada no Egito antigo, a romã é citada na Torá, o livro que guia o judaísmo.

Desde a Antiguidade, a lentilha simboliza prosperidade. Gustavo Rigueiral, que faz jantares em domicílio em São Paulo com seu Chef à Porter, não passa um réveillon sem o arroz que prepara com lentilha, cebola caramelizada, tomate e torresmo crocante. O ritual é feito antes da meia-noite.De sobremesa, faz uma salada de uvas congeladas com sorvete de iogurte e mel. Associados à abundância, os bagos verde-claros – reza a lenda que devem-se comer 12 unidades, uma para cada mês do ano – também estão inscritos na história. Na Grécia e em Roma a uva era associada a Dionísio, deus da alegria.

Outro ingrediente carregado de simbologias de valor, coragem e habilidade é o louro. Não por acaso, na Grécia Antiga, o prêmio maior na Olimpíada era uma coroa de louros. Marcílio Araújo, do paulistano Benedictine, incluiu a erva em suas receitas com bacalhau e cordeiro, este último símbolo da pureza nas religiões católica e judaica.

FONTE: http://revistacasaejardim.globo.com/

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